O cérebro das crianças está constantemente aprendendo a processar as emoções vivenciadas por elas.
Sendo assim, quando elas ouvem uma história assustadora, o corpo reage como se algo estivesse acontecendo de verdade: o coração acelera, a respiração muda, os olhos se ampliam.
Essas histórias viram uma espécie de “brincadeira com o medo”, pois a criança sente aquele friozinho na barriga, mas vai compreendendo aos poucos que no fim tudo vai ficar bem. E quando a história termina, ela sente aquele alívio gostoso.
Ademais, fora do contexto de uma narrativa, o medo em si desperta o interesse dos pequenos, porque brincadeiras de susto, esconde-esconde, pega-pega com monstros inventados são maneiras delas experimentarem essa emoção de forma mais leve.
É assim que nossos pequenos começam a perceber que é possível passar por momentos difíceis, lidar com a insegurança do desconhecido, vencer seus medos – e se sair bem do outro lado.
Histórias de terror na infância: proibir ou não?
Muitas vezes, os adultos proíbem esse tipo de conteúdo com receio de assustar demais as crianças. Mas, o que é proibido costuma despertar ainda mais curiosidade, lembram disso?
Se os colegas da escola falam de uma história de terror que viram ou ouviram, seu filho também quer conhecer. Não é só pela história em si, mas para sentir que faz parte do grupo, que é corajoso como os outros.
Além disso, muitas histórias assustadoras infantis têm um tom engraçado ou exagerado. Tem monstro que tropeça, bruxa que ronca alto, fantasma que foge de criança… e isso diminui a intensidade do medo.
Em narrativas assim, a criança entende pouco a pouco que aquilo é só faz de conta, e consegue se divertir mesmo quando sente um friozinho na barriga.
Como os pais podem acompanhar esse interesse
Em vez de proibir de cara, é melhor observar como a criança reage. Ela fica mais pensativa? Dorme bem depois? Ri ou fica séria?
O importante é conversar, perguntar o que seu filho achou da história, o que sentiu e se isso interfere no bem estar dele após ter contato com a narrativa assustadora.
Também vale ressaltar que falar sempre sobre a diferença entre o que é real e o que é imaginação também ajuda muito. Assim, a criança entende que sentir um pouco de medo é natural, e algumas historinhas estão aí justamente para ajudar a lidar com isso.
Contudo, se notar que as histórias de terror estão causando muito incômodo — como pesadelos ou medo exagerado — talvez seja bom dar um tempo e procurar opções de narrativas diferentes.
O que as histórias de terror infantis podem ensinar
Mesmo parecendo um pouco estranhas, algumas histórias podem ajudar em vários aspectos:
- Ajudam a criança a entender sentimentos mais intensos, como o próprio medo ou insegurança;
- Criam empatia pelos personagens que passam por dificuldades ao enfrentar o medo;
- Mostram que é possível lidar com problemas que assustam e sair mais forte;
- Estimulam o raciocínio e a imaginação, porque a criança tenta adivinhar o que vai acontecer e pensa em soluções para os desafios.
Dica: esses aprendizados ficam ainda melhores quando há um adulto acompanhando, conversando, brincando junto, criando finais alternativos ou desenhando os personagens com a criança.
Se o medo for muito grande…
Às vezes, mesmo com todo cuidado dos pais, a criança se assusta demais com alguma história e nesse caso, o melhor é acolher.
Falar algo do tipo: “Você ficou com muito medo, não é? Eu entendo, mas vai ficar tudo bem, estou aqui para você”, é muito mais útil do que dizer “não precisa ter medo disso”. Afinal, o sentimento realmente existe e precisa ser respeitado.
Dá para vocês criarem juntos formas lúdicas de acalmar, como por exemplo: fazer um desenho engraçado do monstro, inventar uma capa da coragem, criar um spray de proteção com água e lavanda… tudo isso ajuda a criança a se sentir mais segura.
Nem toda criança gosta de histórias de terror, e tudo bem
Tem criança que simplesmente não gosta desse tipo de história, mesmo as mais leves — e não tem nada de errado nisso.
Algumas preferem contos com bichinhos inofensivos, princesas, super-heróis ou mesmo histórias do dia a dia. Nesses casos, forçar o contato com o que causa desconforto não ajuda em nada.
Os adultos precisam também cuidar da faixa etária indicada para cada conteúdo, pois não é porque o irmão mais velho assiste que o mais novo deve ver também.
Com os menorzinhos, a leitura junto de um adulto é sempre uma boa ideia — assim dá para conversar, acalmar a criança se preciso, e explicar qualquer parte mais intensa da narrativa da forma certa.
No fim das contas, o interesse por histórias assustadoras acaba sendo uma forma de testar a coragem, brincar com o desconhecido e entender que o medo existe, mas pode ser vencido quando necessário.
Tudo isso vira um bom aprendizado para o resto da vida.