Para muitas crianças, a ideia de um esporte cheio de regras e competição, não parece nada divertida.
Isso porque, existem pessoas que simplesmente não gostam da pressão de fazer parte de um time.
Outras até gostariam, mas lidam com dificuldades motoras, sensoriais ou sociais que tornam certas modalidades bem desconfortáveis de praticar.
Mas o ponto é que movimentar o corpo é essencial para a boa saúde, então como incluir alguma atividade física quando a criança simplesmente não quer? Vamos conhecer alguns caminhos possíveis agora.
Crianças podem não gostar de exercícios físicos, mas amam brincar!
Antes de pensar em esportes como são organizados – em times ou individual – é importante lembrar que toda brincadeira que envolve movimento já é uma forma de atividade física.
Caça ao tesouro, amarelinha, cabo de guerra com almofadas, circuito com obstáculos pela casa, dança com a música favorita, pular corda… tudo isso mexe com o corpo e diverte ao mesmo tempo. Ou seja, está valendo!
Assim, olhe para esse tipo de proposta de maneira positiva, pois ela costuma funcionar, uma vez que tira o peso da obrigação e da comparação – que é comum em atividades que envolvem competição.
E isso acontece porque a criança se movimenta por estar brincando, e não porque precisa alcançar uma meta.
Rotina e movimento
Mesmo atividades rotineiras como ajudar na limpeza da casa, guardar brinquedos ou arrumar o próprio quarto podem ser um jeito de incorporar movimento no dia a dia.
É nesse ponto que ferramentas como o quadro de rotina podem fazer bastante diferença.
Afinal, quando a criança visualiza suas tarefas diárias — principalmente as mais ativas — como parte do dia a dia da família, tudo passa a fazer mais sentido para ela.
E o melhor: ela consegue acompanhar o próprio progresso de forma divertida e visual, o que também contribui para o sentimento de autonomia.
Traga opções de movimento e deixe que seu filho escolha
Que tal deixar seu filhote escolher entre duas ou três opções de atividades? Ou ainda, dar mais autonomia ao perguntar o que ele gostaria de tentar fazer ao ar livre, sem nenhuma pressão?
Muitas vezes, a resistência inicial vem do medo de falhar em algo que a criança não teve participação na decisão de escolha; Também de não saber fazer certo uma coisa nova ou mesmo de não atender às expectativas dos adultos.
Entretanto, quando mostramos que não há certo ou errado — e que o importante é participar do jeito que for possível — a criança tende a se soltar com mais facilidade.
Autonomia e reconhecimento
Voltando a falar de autonomia, ela também pode estar na escolha de músicas, na criação de coreografias, no desenho de uma pista de obstáculos feita com almofadas, etc.
No fim das contas, a ideia é permitir que seu filho se sinta protagonista da atividade, e não apenas alguém que precisa obedecer e fazer algo por mera obrigação.
O uso do quadro de incentivo, nesse contexto, também pode funcionar como um grande aliado.
Isso porque, visualizando cada conquista registrada com uma “carinha feliz”, a criança sente que está sendo reconhecida de forma positiva.
A influência das telas e do entretenimento digital
Nos últimos anos, uma das mudanças mais visíveis na infância foi a forma como o entretenimento digital passou a ocupar grande parte do tempo das crianças.
Entre vídeos curtos, redes sociais infantis, jogos interativos e aplicativos com estímulos constantes, é fácil perceber por que muitos preferem ficar parados diante de uma tela a sair para brincar ou praticar algum tipo de atividade física.
A hiperestimulação visual e a gratificação instantânea oferecidas por esses conteúdos acabam se tornando mais atraentes do que atividades que exigem esforço, interação física ou espera por resultados.
Segundo uma pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil (2023), crianças entre 9 e 17 anos passam, em média, quase 5 horas por dia conectadas — e esse número pode ser ainda maior entre os menorzinhos, sobretudo, com o uso de celulares e tablets desde a primeira infância.
Mas isso não significa que seja impossível mudar esse cenário. O primeiro passo é compreender que a tecnologia, sozinha, não é a vilã e o problema está no desequilíbrio.
Por isso, mais do que proibir, uma forma eficaz é usar o próprio interesse digital como ponto de partida.
Se a criança gosta de jogos de dança, por exemplo, que tal procurar vídeos ou aplicativos que incentivem a dançar junto?
Se ela ama personagens, vale propor brincadeiras corporais em que cada um interpreta um deles em uma “aventura” em casa ou no quintal.
O uso de um quadro de rotina, por exemplo, pode ajudar a criança a visualizar como será o dia, reduzindo a resistência às mudanças.
Isso porque, quando o momento de se movimentar está inserido de forma lúdica e previsível, ele se torna parte natural da rotina.
Outras alternativas para crianças que não gostam de esportes ou exercícios
Caminhadas em trilhas curtas, cuidar de um pequeno jardim, lavar brinquedos no quintal, ajudar a carregar compras… são atividades que não representam um esporte tradicional, mas ajudam a cumprir o papel de movimentar o corpo.
O que todas essas atividades possuem em comum é que têm um propósito além de apenas “fazer um exercício”.
Outro caminho possível é incluir o movimento de forma natural em diferentes contextos da rotina.
Por exemplo, caminhar até a padaria, subir escadas em vez de usar o elevador, passear com o cachorro, fazer alongamentos ao acordar — pequenas práticas que se tornam hábitos e não costumam causar resistência.
Costuma dar certo porque ao invés de separar a atividade física como algo isolado, dilui-se o movimento ao longo do dia em diferentes atividades. E isso também ajudará seu filho a enxergar que participa ativamente da rotina da casa.
Reavaliando expectativas e comparações
É natural que os adultos queiram ver os filhos participando de esportes como fizeram na mesma idade que eles têm, mas é preciso cuidado para não projetar expectativas baseadas na própria infância, ou na comparação com os coleguinhas.
Nem toda criança vai se tornar atleta e isso não significa que ela esteja perdendo algo, pois o que seu filho precisa, antes de tudo, é saber que pode confiar no próprio corpo.
Ao final, da experiência com esportes ou outras atividades físicas, o que deveria ficar não é sobre o melhor desempenho, e sim a lembrança de que mexer o corpo também pode ser um jeito gostoso de viver a infância, se conectar com os amigos, aliviar tensões e descobrir novas formas de brincar.