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Colorismo: muito além dos tons

Nas interações sociais, existe uma realidade que, de maneira sutil, pode afetar a experiência das comunidades negras.

Não se trata apenas de variações de melanina, mas de narrativas que impactam nas identidades e, muitas vezes, criam brechas desnecessárias no que diz respeito à cor da pele. 

Isso porque, infelizmente, existe um mundo onde ser chamado de “moreno” não é só uma descrição inocente. Na verdade, se trata do reflexo de uma sociedade que classifica e julga pela tonalidade da pele. 

E é nesse contexto que o colorismo se revela, impactando não apenas a estética, mas a forma como as oportunidades são distribuídas e como as crianças se enxergam.

Infelizmente, os pequenos acabam absorvendo desde cedo as nuances desse fenômeno que, ao invés de unir, pode fragmentar.

Desvendando o colorismo

Para compreender mais sobre o que é o colorismo, é interessante voltarmos no tempo, quando Alice Walker, em 1982, lançou luz sobre essas questões em “Se o presente se parece com o passado, como será o futuro?“.

A menção é uma reflexão sobre a interconexão do passado, presente e futuro, explorando como eventos históricos e sociais moldam o curso da humanidade. 

Nessa linha, o colorismo, em sua essência, não é apenas uma categorização de tons de pele, pois se trata de uma espécie de herança histórica que remonta aos tempos de escravidão. 

Isso porque foi uma época em que a cor da pele determinava o tipo de tratamento recebido, fazendo surgir uma hierarquia baseada nos tons. 

Contudo, apesar de muitas pessoas acreditarem que é um assunto passado, na atualidade, essa hierarquia persiste, infiltrando-se em palavras e atitudes que, muitas vezes, são quase imperceptíveis.

Palavras como “morena(o)” podem soar como inocentes descrições, mas, na verdade, carregam consigo a bagagem de séculos de discriminação. 

Aqueles de pele mais clara muitas vezes se deparam com a negação de sua própria negritude, enquanto aqueles mais escuros enfrentam barreiras adicionais.

A influência de Alice Walker

Alice Walker foi uma escritora renomada, ativista e pensadora atenta, que trouxe uma perspectiva única, provocando reflexões sobre como o passado influencia o presente e modela o futuro.

A autora não se limitou a teorias acadêmicas, pois conectou as complexidades do colorismo às experiências da vida cotidiana. 

Walker não apenas definiu o colorismo, mas o despiu de qualquer neutralidade, destacando seu impacto direto nas vidas das pessoas. 

E ao fazer isso, ela revelou não apenas um problema histórico, mas um desafio que permeia os relacionamentos, a autopercepção e o acesso a oportunidades.

Como podemos construir um futuro mais justo se estivermos amarrados às correntes do passado?

As origens do colorismo são complexas, muitas vezes enraizadas em ideias ultrapassadas de beleza e status. 

E, Alice Walker, com sua obra, nos instiga a desafiar essas ideias, a reconhecer a riqueza da diversidade e a reescrever a narrativa para as gerações futuras. 

Ao ler as palavras dela, somos impulsionados a questionar e repensar nossas próprias noções de beleza e valor. Afinal, o que é beleza quando está sujeita a uma paleta de tons? 

O colorismo no mundo profissional

No contexto profissional, a influência das diferentes tonalidades de pele é notável, muitas vezes determinando o acesso a empregos e o tratamento recebido no ambiente de trabalho.

Em muitos casos, indivíduos de pele mais clara dentro da comunidade negra enfrentam menos barreiras para conquistar oportunidades profissionais. 

Infelizmente, essa discriminação implícita reflete-se em estatísticas alarmantes. Pessoas negras de pele mais escura, em comparação com seus pares de pele clara, enfrentam desafios adicionais para encontrar emprego e progredir em suas carreiras.

Segregação velada

A segregação velada no ambiente profissional é evidente em situações de entrevista, promoções e até mesmo nas relações interpessoais no escritório. 

Estereótipos persistem, afetando a percepção e o tratamento dispensado a indivíduos com diferentes tonalidades de pele. 

O fenômeno do “branqueamento” — a preferência por características associadas a uma pele mais clara — perpetua desigualdades que remontam aos períodos históricos.

Profissionais negros de pele mais escura podem se encontrar presos em um ciclo de oportunidades limitadas, reforçando desigualdades que minam a promessa de um ambiente profissional igualitário e justo.

Abordando racismo e colorismo com as crianças

Abrir um diálogo sobre racismo e colorismo com crianças é um passo fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. 

Conversar sobre raça desde cedo é uma estratégia para desconstruir preconceitos enraizados. 

Os adultos, primeiros educadores, desempenham um papel essencial nesse processo, orientando as crianças sobre a diversidade racial e promovendo a aceitação desde a infância.

No caso específico do colorismo, é importante explicar que todas as tonalidades de pele dentro da comunidade negra são igualmente valiosas. 

Para isso, é possível utilizar analogias e linguagem acessível, garantindo que as crianças compreendam a mensagem sem confusão. Incorpore personagens diversos vistos em livros, filmes ou brinquedos demonstrando a beleza da diversidade. 

Seguindo por esse caminho, questione as crianças sobre como denominariam uma pessoa branca e se a mesma opinião se aplica para pessoas negras.

Promover um ambiente onde todas as cores de pele são celebradas é um antídoto poderoso contra o colorismo. 

Combatendo o colorismo nas escolas

Nas escolas, onde as crianças passam uma grande parte de seu tempo, o combate ao colorismo deve ser uma prioridade. 

Infelizmente, o ensino sobre a história afro-brasileira e indígena não é abordado da maneira adequada em algumas instituições, contribuindo para a perpetuação do preconceito.

As crianças precisam crescer aprendendo que todas as histórias são igualmente valiosas, independentemente da cor da pele.

Além disso, é imperativo criar ambientes inclusivos nas escolas, onde todos os alunos se sintam representados e valorizados. 

Os educadores podem ajudar incentivando atitudes inclusivas e corrigindo comportamentos discriminatórios sempre que surgem. 

Também é interessante implementar programas anti-bullying que abordem especificamente o colorismo a fim de criar um ambiente escolar mais seguro e acolhedor.

Combater o colorismo nas escolas é uma forma de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa desde a base. 

Enfrentando o racismo e o colorismo em casa

Por fim, em casa, os pais devem ser conscientes de suas próprias atitudes e crenças em relação ao colorismo, buscando constantemente superar qualquer viés internalizado.

O diálogo aberto sobre raça, discriminação e colorismo deve ser incentivado desde cedo, pois as crianças precisam sentir que têm espaço para expressar suas experiências e dúvidas sem julgamento. 

Fortalecer a autoestima das crianças negras é uma responsabilidade crucial dos pais. Isso envolve elogiar sua identidade, incentivá-las a se orgulharem de sua herança e ensinar que sua cor de pele não determina seu valor. 

O verdadeiro poder da mudança está nas pequenas ações cotidianas que começam nos lares e se estendem para além deles.

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